“Como uma mentira pode dar a volta ao mundo enquanto a verdade leva o mesmo tempo para calçar os sapatos?” – Foi a pergunta de Mark Twain, o escritor e humorista americano crítico do racismo – mais conhecido “Pelas Aventuras de Huckleberry Finn” – o melhor, a meu ver, romance americano. O protagonista Huckleberry vive inúmeras aventuras pelo rio Mississipi em uma balsa, acompanhado por Jim, um escravo fugitivo. No decorrer do tempo ele a a refletir sobre as concepções morais (e próprias) daquilo que era tido como certo ou errado. No mundo de Donald Trump, Vladimir Putin ou de Jair Bolsonaro, cada um traz sua própria gafe, sua própria polêmica, seu próprio golpe. No entanto, por trás de manifestações desenfreadas, está o trabalho intenso de observadores, sem o qual esses líderes de embuste nunca teriam chegado ao poder. Mal se está comentando um acontecimento, e esse já é eclipsado por um outro, numa espiral infinita que catalisa a atenção e satura a cena midiática. Muito desse espetáculo é de grande tentação para levantar as mãos aos céus e dar razão a Hamlet, de Shakespeare: “O tempo está fora do eixo!” Por detrás do aparente absurdo das fake news (leia-se mentiras) e das teorias conspiratórias, oculta-se uma lógica bastante sólida; do ponto de vista desses tais líderes de embuste (as verdades alternativas não são instrumentos de propaganda), ao contrário, as verdades constituem vetores de coesão. – Por vários ângulos, o absurdo é uma ferramenta mais eficaz que a verdade. Para o bem e, sobretudo, para o mal, as instituições são aquelas que marcam esse nosso miserável tempo; um tempo que não reconhece o seu lugar porque está sempre no tempo presente. – Ele vem da capacidade desses indivíduos medíocres em desorganizar para poder organizar as suas torpezas! – É isso.
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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